Nossos amigos influenciam nossas vidas. Para melhor… ou para pior.
No livro Connected: The surprising power of our social networks and how they shape our lives (Conectado: o surpreendente poder de nossas redes sociais e como elas moldam nossas vidas), o professor da Universidade Harvard Nikolas Christakis juntou forças com o cientísta político e pesquisador de saúde James Fowler.
Detalhe: Christakis foi eleito pela Time Magazine uma das 100 pessoas mais influentes no mundo.
Sabe aquela coisa meio melosa do tipo “eu estou feliz porque você está contente”? Será que as emoções podem ser transmitidas de uma pessoa para outra, da mesma forma como um vírus? Essa é a abordagem de Christakis e Fowler – e não é coincidência que eles possuem experiência de pesquisa em epidemias.
Essa idéia já tinha sido bem explorada no excelente livro The Tipping Point (O Ponto de Desequilíbrio – link afiliado) de Malcolm Gladwell, no caso das epidemias de suicídio. Para Gladwell, quando um caso de suicídio aparece nas manchetes de jornais e revistas, é como se houvesse uma autorização para que outros potenciais suicidas cometerem o mesmo ato. Esse papo todo é muito interessante e sinistro, por envolver peer pressure e outros mecanismos de influência que podem ter consequências terríveis.
Já no Connected, Christakis e Fowler analisam casos onde existe bastante consenso, como a histeria coletiva em escolas… e vai também para temas de senso comum porém surpreendente, como o fato da obesidade ser contagiosa (!) quando nossos amigões do futebol começam a ficar barrigudos, causando um incentivo para que a gente também descuide do corpo.
O que é surpreendente não é o fato de que pessoas de um certo tipo procuram se reunir com seus semelhantes (magros fazendo amizade com pessoas em forma), mas sim o fato de um obeso entrar para uma turma de marombados… e essa turma proporcionar um ambiente e uma dinâmica que o incentiva a perder peso e também ficar fortão. As relações são causais.
Não apenas isso. Os níveis de influência operam até em três níveis de separação. Quer dizer que se um amigo, do amigo do seu amigo engordar, isso aumenta as chances de você ganhar uns quilos a mais. Mesmo que não conheça o tal sujeito, que more em outro continente.
A pressão social e o macaquinho dentro de nosso cérebro que gosta de imitar os outros são alguns dos vários elementos que são apresentados na obra de Christakis e Fowler. Nossa herança evolutiva primata é prato cheio de discussão para primatologistas como Robin Dunbar e cientistas como meu amigo Átila Iamarino, que escreveu o artigo “Como você erra sempre nas mesmas coisas“
Como não sou cientista, gosto de explicar esse fenômeno pela literatura: no livro O Cortiço de Aluísio de Azevedo existe o tema comum do movimento Naturalista de que o homem é fruto do meio. Lembro que no preparo para vestibular a maior pegadinha era perguntar ao vestibulando qual era o principal personagem do livro: o próprio cortiço.
As pessoas que iam para aquele ambiente passavam a ser corrompidas, como no caso do trabalhador português Jerônimo, que caiu nas graças da sedutora mulata Rita Baiana, tornou-se fanfarrão, parou de cuidar da filha e pirou o cabeção, mandando matar o amante da Rita.
Essa história do Azevedo é parecida com temas de Émile Zola, naturalista francês que também tem livros sombrios, como L’Assommoir, em que a bebida é a força que destrói a vida dos personagens. Na verdade, não é exatamente a bebida em si, ou um super-vilão macabro. São os próprios personagens que puxam um ao outro para baixo, como caranguejos dentro de um balde.
Antes de fechar o post com um agradecimento pra minha querida professora de literatura Lilian, deixo um cutucão para todos nós: as pessoas que nos rodeiam nos trazem para cima ou nos mantém prisioneiros numa realidade de escassez, dificuldade e medo?
Selecionar com cuidado quem fica ao nosso redor é bem importante. Logico que tem coisas na vida que a gente não escolhe. Nesses casos, nós é que temos a responsabilidade de ser a força que eleva o grupo, colocando quem a gente ama em um nível melhor sempre que possível.
Mas na maior parte das vezes, a gente pode sim escolher com quem nos relacionamos. A gente usa esse conceito de interação junto com técnicas de coaching financeiro no programa A Classe Alta e tem funcionado muito bem para todos os participantes.
E você, como faz para lidar com as influências negativas e multiplicar as influências positivas?