Ideias ótimas de pessoas péssimas

Oi! Seiiti Arata. Não julgue uma ideia por causa do autor daquela ideia. É um erro desmerecer uma ideia qualquer por causa da personalidade ou da história da pessoa que comunicou aquela ideia. Este é um erro de aplicação de inteligência. Este é um erro que está cada vez mais recorrente na cultura do cancelamento: o erro de invalidar uma ideia por conta de aspectos da pessoa que verbalizou essa ideia.

Para evitar esse erro, você precisa ter a inteligência de separar pessoas de ideias. 

Uma pessoa ótima pode ter uma ideia péssima. Uma pessoa péssima pode ter uma ideia ótima. E o simples fato de uma pessoa ótima repetir uma ideia também ótima, porém que está popularmente associada a uma pessoa péssima, não torna a pessoa ótima em uma pessoa péssima. Parece complicado? Então vamos dar um exemplo para ficar bem claro. 

Mesmo quando você considera alguém uma pessoa péssima, isso não significa que todas as ideias dela sejam péssimas. 

Por exemplo, Thomas Edison é considerado um dos maiores inventores de todos os tempos. Ele criou o fonógrafo, comercializou a primeira câmera cinematográfica bem sucedida, aperfeiçoou o telefone e a máquina de escrever e principalmente construiu a primeira lâmpada incandescente comercializável. 

Claro que ele não fez nada disso sozinho. A imagem do inventor solitário é uma imagem romantizada, mas este é assunto para outra conversa.

Hoje é importante entendermos que Thomas Edison era um ser humano e como todo ser humano também tinha vários defeitos. E alguns anos atrás ficou muito popular divulgar cartuns e artigos revelando ao mundo os defeitos de Edison e atitudes abusivas contra seus funcionários, contra animais e contra o brilhante Nikola Tesla, seu maior rival. 

Nada disso era novidade, tudo sempre esteve documentado em livros, porém os cartuns e a Internet fizeram explodir um sentimento extremamente negativo contra Edison. Vinte anos atrás, em geral Thomas Edison era considerado um gênio. E hoje em dia, se você mencionar o nome de Thomas Edison, parece que está fazendo elogios a uma pessoa péssima.

É necessário separar pessoas de ideias.

Imagine que você considera Thomas Edison uma pessoa péssima. E se você fica sabendo que Edison disse que é importante (i) trabalho duro, (ii) persistência e (iii) bom senso, o que isso significa? 

Será que trabalho duro, persistência e bom senso são inúteis pois você não gosta de quem disse isso e acha que tudo o que ele diz é mentira? 

E se uma outra pessoa que você realmente admira diz a mesma coisa… e não faz a citação, a atribuição a Thomas Edison? Será que o fato de trocar o autor de uma ideia conhecida faz com que a qualidade da ideia mude? Será que você não está misturando conceitos teóricos com o seu sentimento de amor ou ódio a certas pessoas?

Aprenda a cultivar a sua habilidade de manter o foco na qualidade das ideias, independentemente de quem é o autor dessas ideias. É assim que você desenvolve a sua inteligência. A mesma ideia pode ser dita e repetida por todos os tipos de pessoas e é um erro de raciocínio fazer uma atribuição permanente de uma ideia a uma única pessoa. Pior ainda é transportar atributos morais daquele indivíduo de modo a atrapalhar o seu exame racional daquela ideia.

Muitas vezes, o nome do autor de uma ideia é apresentado como técnica de oratória para maior impacto e persuasão.

Algumas vezes, um orador pode procurar por pessoas com maior popularidade e usar citações delas como ferramenta para buscar um impacto maior na comunicação. Eu fiz isso mais de quatro anos atrás, no vídeo de título COMO APRENDER QUALQUER COISA DIFÍCIL e fiz a citação a Thomas Edison ao apresentar a ideia de que para alcançar algo que vale a pena é necessário trabalho duro, persistência e bom senso. 

Para algumas pessoas que consideram Edison um empresário e inventor com autoridade, a menção do nome dele trouxe um peso maior, uma força ao argumento de que realmente é valioso o trabalho duro, persistência e bom senso.

Porém, esta mesma ideia poderia ter sido talvez até melhor transmitida sem ter mencionado o nome de Edison. O motivo é que algumas pessoas simplesmente deixaram de prestar atenção em toda a argumentação apenas porque consideram Edison uma pessoa péssima.

Inteligência Arata Academy, por Seiiti Arata

Neste caso, a conclusão é que se pessoas péssimas estão sendo trazidas como autores de frases de impacto, é uma perda de tempo ficar ouvindo o resto dos argumentos. O nome de uma pessoa péssima serviria como um atalho para a decisão em parar de continuar ouvindo.

Nesse caso, o problema não é com a ideia em si, mas com o fato de fazer citações de nomes de pessoas consideradas péssimas. Isso se chama heurística, é um atalho para poder decidir com rapidez. 

O cérebro humano tem basicamente dois modos de pensar. Um modo rápido e um modo devagar. O modo rápido está sempre procurando por atalhos para decidir e isso economiza muito tempo, porém nos deixa expostos a erros. Já o modo devagar precisa fazer uma análise mais detalhada para poder decidir. Isso permite raciocinar com maior clareza, porém é um investimento maior de tempo.

O orador que usa citações e nomes de celebridades e autores famosos está buscando se comunicar com você no modo rápido, para que você concorde com ele por causa dos méritos das pessoas mencionadas (e não necessariamente pelas ideias em si).

É por isso que cada vez menos eu faço menções a nomes quando compartilho diferentes ideias aqui com você. Quero que você exercite o hábito de examinar as ideias por si e não por causa de você gostar ou não gostar de quem divulgou a ideia.

É uma enorme limitação intelectual tentar invalidar um argumento por conta de aspectos sobre a pessoa que embasa o argumento.

Do mesmo jeito que pessoas ótimas podem ter ideias horríveis, pessoas horríveis também podem ter ideias excelentes. Por isso, para aumentar os seus níveis de inteligência, você precisa aprender a entender o contexto e a separar as ideias dos seres humanos.

Esse é o processo de desenvolvimento de inteligência, que envolve aprender a encontrar fontes e não misturar a qualidade de certas ideias com a pessoa que se tornou conhecida por divulgar aquela ideia.

Os seres humanos são cheios de falhas. Nenhuma pessoa vai sobreviver com uma reputação perfeita se alguém decidir analisar a vida inteira dessa pessoa. Nós cometemos erros, muitas vezes erros graves, mas isso não invalida todas as nossas ideias, todo o trabalho que fizemos ao longo do tempo.

Por exemplo, o que você acha dessa ideia: “As palavras constroem pontes em regiões inexploradas”. Parece um bom pensamento, certo? As palavras, a conversa, a troca de ideias, podem construir grandes relações e resolver problemas em áreas onde antes não existia nada.

Sabe quem disse essa frase? Adolf Hitler. Sim, estou pegando o caso mais extremo para você observar que mesmo pessoas odiosas podem ter ideias, argumentos ou exemplos que podem ser aproveitados.

Desprezar todo o legado de uma pessoa por causa de um erro é desvalorizar o valor social e individual do trabalho.

No episódio 240 da série Oi! Seiiti Arata, nós conversamos sobre o problema de vivermos em uma era de extremos. Nessa época de polarização, muito estimulada pelos algoritmos que fazem a intermediação das conversas sociais, nós temos a tendência de ir para o tudo ou nada.

Uma hora uma pessoa é vista como gênio, como inovador, como um grande ser humano. Aí alguém descobre que essa pessoa cometeu um deslize, um erro, ou até mesmo um crime. Por causa disso, tudo o que aquela pessoa criou, produziu e deixou como legado automaticamente é jogado na lata do lixo.

No estudo da lógica, isso tem até nome: argumento ad hominem. Uma falácia que se caracteriza quando uma pessoa responde a um argumento com críticas negativas ao autor do argumento e não ao conteúdo apresentado.

Não importa se aquela pessoa criou milhares de empregos, se gerou riqueza, se inventou coisas que facilitam a nossa vida… por causa de um fato específico, tudo o que ela fez passa a ser desprezado. 

E até mesmo quem simplesmente cita aquela pessoa como exemplo acaba correndo o risco de também ser desprezado pelo tribunal do cancelamento. Um tribunal que julga em questão de segundos, muitas vezes lendo apenas a manchete, sem dar direito de defesa, sem conhecer os detalhes do caso.

Mark Zuckerberg era louvado como um garoto prodígio quando inventou o Facebook. A rede dele nos permitiu conversar com parentes e amigos distantes, com quem tínhamos perdido contato. Permitiu compartilhar fotos, vídeos, emoções. Ele criou uma das empresas mais valiosas de todos os tempos e gerou milhares de empregos em vários países do mundo, criando todo um mercado de redes sociais que antes praticamente nem existia.

Zuckerberg já doou milhões de dólares para entidades filantrópicas e anunciou publicamente que vai transferir para instituições de caridade noventa e nove por cento das ações da empresa Meta. Isso significa uma fortuna de uns cinquenta BILHÕES de dólares.

Mesmo assim, a maioria das pessoas na internet vê hoje Mark Zuckerberg como um empresário malvado, que só quer bisbilhotar nossas vidas para vender publicidade, manipulando nossos desejos e até mesmo as eleições de alguns países.

Por conta dos erros que Zuckerberg cometeu, as pessoas desconsideram tudo o que ele fez e passam a desprezar até mesmo quem usa o Facebook como exemplo para qualquer coisa.

Apesar de você não gostar dos erros que foram cometidos pelo Mark Zuckerberg e pelo Thomas Edison, ainda assim é importante diferenciar o autor e a obra. 

É necessário separar pessoas de ideias.

Pare de limitar a sua própria inteligência. Aprenda o que existe de bom mesmo nas pessoas supostamente ruins.

Quando você despreza o trabalho, as ideias ou os exemplos de uma pessoa só por causa de um erro específico ou de uma série de erros, você está limitando a sua inteligência. Tome cuidado em não misturar o modo rápido e o modo devagar de pensar.

E se você é mais radical e começa a desconsiderar até mesmo quem cita essas pessoas supostamente ruins, você está elevando essa limitação ao máximo. Se esse for o seu caso, você está adotando um radicalismo perigoso, que pode deixar a sua inteligência limitada apenas àqueles que pensam como você.

A nossa mente se expande na diversidade. Se você abrir a sua mente para receber bons exemplos mesmo de pessoas supostamente ruins, você vai conseguir aumentar os seus níveis de inteligência muito mais rapidamente.

Inteligência Arata Academy, por Seiiti Arata

E por que eu digo pessoas SUPOSTAMENTE ruins? É porque na verdade ninguém é totalmente bom ou totalmente mau. Todos os seres humanos possuem muitas qualidades e muitos defeitos. 

Uma pessoa inteligente tem plena consciência disso e sabe separar as partes boas das partes ruins, para absorver o que há de melhor e repelir o que há de pior.

Por isso, em vez de sair julgando de forma radical, seja mais inteligente. Pessoas que você considera péssimas podem te dar ótimas ideias, exemplos e argumentos. Basta você estar aberto a absorver o que elas têm a oferecer de bom ao mesmo tempo em que aprende a não cometer os mesmos erros que elas cometeram.

É de enorme limitação intelectual tentar invalidar um argumento por conta de aspectos sobre a pessoa que é a fonte de uma ideia ou de um exemplo. Uma frase inspiradora pode ter vindo de um assassino ou de um santo. Por isso, é necessário separar pessoas de ideias.

Quando você faz isso, você abre a sua mente para absorver boas ideias, argumentos e exemplos de pessoas que você considera como pessoas ruins. Isso é como tirar uma trava que limita a sua inteligência, permitindo que você aprenda mesmo com pessoas que antes você desprezava completamente.
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