Oi! Seiiti Arata. Um dos maiores erros de inteligência é ficar idealizando pessoas. Quando você tem algum ídolo, alguém que você admira muito, eu sei que é difícil aceitar que aquela pessoa é só um ser humano comum, com qualidades e defeitos. Mas acreditar que os nossos ídolos são infalíveis é um erro que acaba limitando a qualidade das nossas escolhas.
O fato de uma pessoa ter se tornado muito conhecida por ter tido algumas grandes ideias não significa que tudo que ela pensa ou diz é bom.
Quando nós não conseguimos separar as pessoas das ideias, limitamos a nossa inteligência. É um erro cognitivo acreditar que todas as ideias daquela pessoa que admiramos são ideias boas.
Na psicologia, esse erro tem até nome: efeito halo. Halo é aquele círculo brilhante que às vezes nós vemos ao redor do sol ou da lua, que parece expandir a luz como se fosse uma auréola. Por isso os psicólogos usam o termo efeito halo para explicar essa tendência que nós temos de expandir a qualidade de uma pessoa que nós admiramos para todas as áreas do conhecimento.
Pessoas ótimas também têm ideias péssimas e tomam atitudes reprováveis.
No episódio anterior da série Oi! Seiiti Arata, nós conversamos que pessoas péssimas podem ter ideias ótimas. E que nós precisamos aprender a separar as pessoas das ideias se queremos expandir a nossa capacidade intelectual.
Agora eu te digo que o contrário também acontece. Pessoas ótimas podem ter ideias péssimas.
Linus Pauling, por exemplo, foi a única pessoa até hoje a ganhar duas vezes o Prêmio Nobel individual. Muito do que sabemos hoje sobre química e biologia devemos a Linus Pauling. Mas isso não significa que ele apenas tem ideias ótimas.
Em certo ponto da carreira, Pauling entrou em um caminho pseudocientífico de consumo excessivo de vitamina C, que ele acreditava ser essencial para a saúde, mas sem evidência sólida. Hoje, a ciência já comprovou que a overdose de vitamina C não tem utilidade terapêutica.
Todo o excesso de vitamina C é eliminado pela urina, mas até hoje tem gente que acredita em consumir muita vitamina C por causa do nome e reputação de Pauling. Afinal, alguém com dois prêmios Nobel na prateleira não pode estar errado, né?
Fica de olho nos comentários, que cedo ou tarde vai aparecer alguém dizendo algo do tipo “Como é que você tem coragem de criticar o Linus Pauling! Quantos prêmios você tem? Você é médico, por acaso? Quantos livros você escreveu?” – e sabe por que isso acontece?
É muito difícil admitir que pessoas ótimas podem ter ideias péssimas.
Quando nós admiramos muito uma pessoa, quando temos um ídolo, temos a tendência de achar que tudo aquilo que ele faz é bom. Mesmo quando vemos algo ruim, nossa tendência é de justificar a atitude, de defender o nosso ídolo.
A pior parte de todas é quando você, que é uma pessoa digamos “normal”, que não é famosa, não tem títulos ou prêmios… porém tem uma ideia boa… e apresenta uma crítica fundamentada mostrando que aquela pessoa ótima teve uma ideia péssima! E daí aquele que é fanático pela pessoa ótima retruca dizendo “Quem é você para criticar o fulano de tal? Quantos prêmios você ganhou? Em que faculdade você se formou? Quantos livros você escreveu?”
Nenhum destes atalhos mentais (prêmios, títulos, livros, fama do autor) serve para transformar uma ideia péssima em uma ideia boa.
Entendeu qual é a limitação intelectual que estamos mostrando? Se nós automaticamente consideramos como bons tudo o que uma certa pessoa faz, nós terceirizamos a nossa capacidade de pensar para aquela pessoa.
Essa terceirização recebe até uma chancela quando a pessoa é muito reconhecida ou quando tem um título ou um prêmio. Ainda vou falar sobre isso em outro episódio, mas um reconhecimento, um título ou um prêmio não significam nada além de um reconhecimento por uma qualidade muito específica.
Por exemplo, imagine que você admira muito o Steve Jobs, fundador da Apple. Ele realmente era muito bom em marketing, em design, em inovação. Então você decide seguir o exemplo dele para ser um grande empreendedor. Sempre que você tem que decidir sobre algo, você se pergunta “o que Steve Jobs faria?”.
O problema de terceirizar a sua capacidade de pensar dessa forma é que mesmo os nossos grandes ídolos cometem erros. Jobs por exemplo era conhecido por tratar mal alguns funcionários, por ser exigente além da conta, por abandonar até mesmo uma filha por conta de sua obsessão pelo trabalho.
Por isso você não pode se iludir pelo efeito halo. Não é porque o seu ídolo é bom em uma área que você pode expandir essas qualidades para todas as áreas da vida. Para ser inteligente, você tem que fazer um esforço cognitivo extra para separar as coisas.
A publicidade utiliza o efeito halo para manipular as suas vontades.
Publicidade e psicologia são áreas mais ligadas do que aparentam. Bons publicitários sabem que a melhor forma de vender um produto ou serviço é entendendo como as pessoas pensam. Por isso eles estudam bastante psicologia para saber como manipular as nossas decisões de compra.
Por que é que os publicitários usam pessoas famosas para vender produtos que não tem nada a ver com a área de atuação daquela celebridade? Por que atores ou atrizes famosos aparecem no comercial de um carro? O que eles entendem de automóvel?
Provavelmente eles entendem de carro tanto quanto você. Mas os publicitários sabem que se uma celebridade recomenda algum produto, é provável que os fãs daquela celebridade tenham vontade de comprar aquele produto. Mesmo que o produto não tenha nada a ver com a área de atuação daquela celebridade.
Isso antes acontecia com as grandes celebridades da televisão ou do cinema. Mas hoje em dia isso acontece em micro segmentos, com os influenciadores digitais de nicho vendendo produtos, serviços ou ideias especificamente voltados para as suas respectivas bolhas.
Quando você não faz o esforço cognitivo de separar as pessoas das ideias, pode acabar sendo manipulado a fazer alguma coisa que talvez você nem queira na verdade fazer.
Humanizar os nossos ídolos é essencial para entendermos as nossas próprias qualidades.
Quando nós ficamos idealizando outras pessoas, provocamos outro efeito negativo para a nossa inteligência: a crença de que nós somos inferiores. Se você fica acompanhando de perto aquela celebridade ou aquele influenciador que vive postando seus grandes momentos de vida nas redes sociais, começamos a achar que aquela pessoa é perfeita e, por comparação, começamos também a achar que a nossa vida é ruim.
Enquanto nosso ídolo está com suas roupas perfeitas aproveitando uma grande experiência em uma foto produzida, tirada por um fotógrafo profissional e depois editada com filtros, você está de pijama em casa, com cabelo bagunçado e procrastinando para lavar a louça suja que está acumulada na pia da cozinha.
Essa é uma comparação injusta, pois você está comparando os seus bastidores com o palco de uma pessoa que recebe dinheiro para transmitir aquele estilo de vida. Tanto que se você for pesquisar a vida de alguém de perto, ninguém vai passar sem falhas.
De modo parecido, se você decidir investigar todas as ideias das pessoas que você considera pessoas ótimas, com certeza você vai descobrir várias ideias péssimas que eles tinham.
Aristóteles dizia que as mulheres só serviam para gerar bebês. Madre Teresa acreditava que os pobres mereciam sofrer. Mahatma Gandhi mantinha relacionamentos com várias mulheres, inclusive com mulheres casadas. Abraham Lincoln tinha ideias racistas. Walt Disney tinha preconceito contra judeus. John Lennon era violento com os filhos.
Antes da era da internet, esses ídolos conseguiam passar uma vida inteira com essa imagem intocada. Mas hoje em dia é muito difícil que alguém consiga esconder seus próprios defeitos por muito tempo.
É normal que pessoas ótimas tenham ideias péssimas.
Por isso, quando nós humanizamos nossos ídolos, nós podemos nos sentir melhor. Nós vemos que eles são seres humanos exatamente como nós, com qualidades e defeitos. E assim fica mais fácil não cometer o erro de transferir uma qualidade específica que eles tenham para todas as áreas da vida.
Você pode humanizar qualquer ídolo fazendo uma pesquisa sobre a obra dele. Na faculdade, os alunos especialmente de humanas aprendem que devem ler a obra completa de algum pensador para encontrar não somente as ideias úteis, mas também as ideias que merecem crítica.
Mas você não precisa de uma pesquisa científica e acadêmica para descobrir os defeitos de alguém que você admira muito. Basta deixar o apego emocional um pouco de lado, usar a razão e fazer uma busca na internet para ter a consciência de que mesmo as melhores pessoas do mundo também têm ideias péssimas.
Pare de ficar idealizando pessoas. O fato de alguém ter se tornado muito conhecido por ter feito algumas coisas boas ou tido algumas grandes ideias não significa que tudo que ela faz ou diz é bom.
Do mesmo jeito que pessoas péssimas podem ter ideias excelentes, as boas pessoas que você admira também podem ter ideias péssimas. Não deixe que o efeito halo cause a ilusão de que uma qualidade específica torna uma pessoa infalível em todas as áreas.
Para expandir a sua inteligência, pesquise sobre as qualidades e defeitos de cada pessoa, inclusive das que você admira. Assim você consegue aprender não somente com os acertos, mas também com os erros. E como bônus ainda consegue perceber que esses ídolos não são tão diferentes de você.
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