Oi! Seiiti Arata. Você já ouviu falar em emagrecer pensando? Já ouviu falar que o cérebro pode queimar até seis mil calorias em um dia quando uma atividade é muito complexa, como jogar xadrez em alto nível?
Quando escutam essas histórias, pessoas que não gostam de exercícios físicos provavelmente começam a sonhar… Será que é possível queimar calorias jogando videogames complexos? Lendo livros difíceis? Estudando para o vestibular ou para concursos?
Infelizmente, isso não passa de um mito. Hoje vamos te explicar a origem deste equívoco que é amplamente disseminado pela internet. Depois, vamos ver como você realmente pode utilizar seu cérebro de modo inteligente.
É um mito dizer que um grão-mestre de xadrez pode queimar seis mil calorias por dia.
De vez em quando circulam histórias espantosas de como o cérebro pode queimar milhares de calorias por dia. Quem já ajudou muito a divulgar esse mito foi a ESPN, uma das maiores redes de mídia do mundo. A ESPN contou histórias de mestres de xadrez que podem emagrecer vários quilos queimando até seis mil calorias em uma competição.
Para buscar credibilidade, a ESPN citou o acadêmico Robert Sapolsky, que é professor da respeitada Universidade Stanford. Sapolsky é especialista em neurobiologia, fisiologia e antropologia. Mas será que todos estes títulos nos permitem concluir que tudo o que Sapolsky diz está correto?
Para termos clareza no nosso raciocínio, precisamos de uma pausa aqui para relembrar dois episódios da série Oi! Seiiti Arata.
No episódio número 254, explicamos que mesmo pessoas ótimas podem ter ideias péssimas. Ou seja, mesmo um acadêmico de grande prestígio também pode errar.
Já no episódio número 255, falamos sobre o fato de que premiações não significam grande coisa. É um erro de raciocínio ser convencido simplesmente apenas porque alguém tem um diploma, certificado ou prêmio. Prêmios não valem praticamente nada para validar uma argumentação.
Por exemplo, imagine que você está apresentando um argumento bem fundamentado sobre um tema de saúde. E um médico escuta o que você diz e te pergunta se por acaso você é formado em medicina para poder falar sobre este tema. Como você não é médico, é melhor ficar quieto e escutar quem tem formação na área. Isso implica um argumentum ab auctoritate, um termo em latim que é a famosa “carteirada”. A argumentação com base em autoridade é um perigoso instrumento de silenciar o pensamento livre.
Apenas ter títulos de prestígio ou apenas ser considerado uma pessoa brilhante não é uma garantia de nada. Você não pode acreditar inocentemente que uma pessoa inteligente e premiada sempre tem boas ideias.
Quando eu li esta história da ESPN, fiquei surpreso pois a quantidade de seis mil calorias queimadas em um único dia é algo espantoso. Então, fui buscar mais detalhes.
E realmente em uma apresentação gravada em Stanford, aos dez minutos e quinze segundos, Sapolsky menciona grão-mestres de xadrez que acabam usando seis a sete mil calorias por dia.
O problema é que a palestra é informal e toca em diferentes assuntos. Quando fala dos grão-mestres, Sapolsky não cita a fonte de sua informação.
Então, fui atrás de livros do Sapolsky e encontrei uma nota de rodapé que menciona o trabalho de Leroy DuBeck como o estudo definitivo sobre jogadores de xadrez. Em 1971, DuBeck percebeu que alguns indicadores em jogadores de xadrez haviam triplicado, como os indicadores de respiração e contração muscular.
Daí, a impressão que dá é que Sapolsky extrapolou e deduziu mais ou menos o seguinte: se uma pessoa normal gasta duas mil calorias em um dia, então um grão-mestre com indicadores triplicados gastaria seis mil calorias. Se este foi o raciocínio usado, então este é um exemplo de uma ideia péssima de uma pessoa ótima.
Aparelhos de medição de calorias queimadas não são confiáveis para medir atividades intelectuais.
Talvez você tenha ouvido de outras fontes que pensar muito queima calorias. E de fato o cérebro consome bastante energia e vamos falar disso daqui a pouco. O problema é que algumas empresas já fizeram iniciativas de marketing medindo batimentos cardíacos de jogadores de xadrez para estimar quantas calorias haviam queimado durante uma partida.
Aqui, existe uma confusão de fisiologia. Quando o batimento cardíaco aumenta durante práticas com movimentos musculares, é possível estimar quantas calorias foram queimadas a partir da medição dos batimentos cardíacos.
Mas, quando não há atividade física envolvida, um coração acelerado nem sempre está acelerado por causa de trabalho muscular queimando calorias.
Um exemplo é quando o batimento cardíaco aumenta devido ao estresse. O corpo entende estresse como situação de perigo. O coração acelera e o nível de glicose na corrente sanguínea sobe para nos dar um aumento súbito de energia que nos ajudaria a fugir ou lutar. Porém, se nesta hora o corpo continua parado, sem queimar a glicose com movimento muscular, o estresse pode até engordar!
Hoje, a ciência fez novas descobertas e está comprovado que é absurdo dizer que uma pessoa gasta seis mil calorias pensando.
O estudo de Leroy DuBeck é antigo, de 1971. O livro que Robert Sapolsky publicou mencionando o estudo de DuBeck também é antigo, de 2004. Nenhum dos dois apresenta boa evidência científica de que jogadores de xadrez podem triplicar a queima normal de calorias.
Um pouco depois, em 2008, um estudo mostrou que a queima de calorias realmente aumenta durante uma partida de xadrez. Mas o aumento é praticamente insignificante. Vale lembrar que o corpo permanece quase imóvel durante um jogo de xadrez. Por mais que o cérebro de um mestre de xadrez esteja em intenso raciocínio, queimar seis mil calorias numa competição sem esforço físico é um exagero.
Sapolsky tem um acervo de contribuições acadêmicas enorme, com muitas informações interessantes e válidas. Mas ele usou fontes ultrapassadas sobre os jogadores de xadrez, e fez uma alegação errada. Vamos lembrar de novo o nosso episódio número 254: pessoas ótimas podem ter ideias péssimas. E está tudo bem.
O cérebro consome até 25% da nossa energia, mas isso não significa que você consegue emagrecer pensando.
Vamos recorrer aos números para desmistificar a ideia de que podemos emagrecer com atividades mentais complexas.
O cérebro de um adulto comum em repouso consome de vinte a vinte e cinco por cento da energia geral do corpo, especialmente em forma de glicose. Isso significa uma queima de trezentos e cinquenta a quatrocentos e cinquenta calorias por dia. Ou seja, o equivalente a três ou quatro bananas.
O cérebro é o órgão que mais consome energia no nosso corpo. Toda essa energia é usada para os neurônios do seu cérebro se comunicarem entre si através de sinais químicos transmitidos por estruturas celulares chamadas sinapses.
O seu cérebro está sempre pensando, não importa se você está acordado ou dormindo, vendo televisão ou lendo um livro. Mas a atividade cerebral não é sempre a mesma.
Usando máquinas modernas, os cientistas já conseguem observar como a atividade cerebral muda de acordo com as tarefas que estamos fazendo. Atividades rotineiras ativam uma área do cérebro. Atividades mais criativas ativam outra área do cérebro. Aprender coisas novas ativam outra área…
A dúvida é: o seu cérebro consome mais energia quando você está se esforçando mais para pensar?
O cérebro consome mais calorias quando desempenha tarefas cognitivas difíceis. Mas não muito mais que o normal.
Quando falamos de exercícios físicos, a relação é quase diretamente proporcional entre o esforço que fazemos e a quantidade de calorias que gastamos. Uma caminhada leve gasta menos calorias do que uma corrida intensa.
Com o cérebro, esta relação não acontece na mesma proporção, mesmo quando estamos desempenhando atividades cognitivas difíceis.
Quando você se esforça para aprender algo novo ou enfrenta um problema difícil como um jogo de xadrez altamente competitivo, as regiões do cérebro ativadas pela tarefa recebem uma energia maior. Mas este aumento é praticamente insignificante e não significa que você está emagrecendo ao queimar calorias pensando.
Não importa se você está jogando xadrez, aprendendo a tocar piano ou vendo o seu filme favorito pela décima vez. O consumo de energia pelo cérebro permanece mais ou menos constante, e quase não altera a quantidade de glicose metabolizada.
E que tal as tarefas que exigem muito autocontrole, como um fumante resistir a um cigarro? São tarefas que exigem muito do nosso cérebro. Mas a ciência já refutou a tese de que tarefas de autocontrole gastam nossa glicose, e que isso nos deixa sem força para resistir a tentações.
Você não vai perder peso pensando. Mas aumentar sua inteligência melhora a sua saúde.
Não dá para emagrecer lendo um livro. Mas não se desanime. Temos boas notícias! A ciência já provou que existe uma outra analogia entre músculos e cérebro, entre exercícios físicos e mentais. Ou seja, do mesmo jeito que as suas pernas ficam mais fortes quando você faz agachamentos, o seu cérebro também fica mais forte quando você tem uma rotina de exercícios.
Ler livros ativamente, dominar técnicas de memorização, aprender novas habilidades… tudo isso deixa o seu cérebro cada vez mais desenvolvido.
É um mito a ideia de que uma pessoa nasce inteligente ou burra, e que vai ficar assim pelo resto da vida. A genética tem uma influência inicial. Mas o que define se a pessoa ficará mais inteligente é o que essa pessoa decide fazer com o cérebro.
Por um lado, quem faz sempre as mesmas atividades passivas, como gastar horas nas redes sociais ou vendo televisão, acaba perdendo a agilidade mental com o tempo. Por outro lado, quem está sempre aprendendo algo novo, se desafiando, fazendo tarefas cognitivas difíceis, acaba desenvolvendo o cérebro e aumentando a própria inteligência.
Se a sua ideia é emagrecer, entrar em forma, ter mais saúde, o que pode te ajudar bastante é desenvolver o seu cérebro. Pessoas mentalmente ativas geralmente são mais informadas sobre alimentação, exercícios e descanso. Mesmo que ainda não sejam fisicamente ativas, essas pessoas provavelmente já desenvolveram no cérebro as ferramentas e a inteligência para mudar o estilo de vida e ter mais saúde.
Pensar não te ajuda a emagrecer diretamente. Mas se você treinar o seu cérebro e aumentar o seu nível de inteligência, você vai indiretamente beneficiar a sua saúde mental e física.
O cérebro consome boa parte da energia do corpo. Mas a ciência já derrubou o mito de que é possível queimar mais calorias com tarefas mentais exigentes. Não importa se você está vendo as redes sociais ou jogando contra o campeão mundial de xadrez. O consumo geral de energia do seu cérebro vai ser mais ou menos o mesmo.
Ainda assim, desenvolver o seu cérebro e aumentar sua inteligência pode indiretamente te ajudar a ter uma vida mais saudável. Para fazer isso, você precisa submeter o seu cérebro a tarefas cognitivas difíceis. Leia livros ativamente, domine técnicas de memorização, e aprenda novas habilidades.
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